Homenagem a um Combatente Português
Title in English
Hommage to a Portuguese soldier
Joaquim Martins Pereira
PORTUGUÊS - 2º Sargento do Batalhão de Sapadores de Caminhos de Ferro – CEP
1 - O ANTES
Terceiro filho de uma família numerosa, Joaquim nasceu em Santo André, Estremoz, em 1893; de mãe alentejana e pai oriundo da região de Viseu, ficou com o mesmo nome do avô paterno, que era de Quintãs, Lordosa.
Por essa data, o seu pai, Manuel Joaquim Pereira, canteiro de mármores, anunciava no jornal Brados do Alentejo, os trabalhos que se executavam na sua oficina. Entre muitos outros, foi dali que saíram já em 1909, os ornamentos em Arte Nova no prédio do café Águias de Ouro (hoje incluído no Património como Imóvel de Interesse Público).
FOTO -Prédio do Café [ 7 ]
O pai era um grande apreciador de arte e foi, além de escultor, executante de clarinete na Banda da Sociedade Filarmónica Artística Estremocense (União). O espírito de artista do pai transmitiu-se à numerosa prole, sendo o sonho do Joaquim estudar belas-artes.
Feita a instrução primária, o pequeno Joaquim, não seguindo a tão ingrata profissão de canteiro, cedo começou a trabalhar, praticando vários ofícios, entre eles empregado de escritório.
Desde muito novo começou a mostrar as suas qualidades de escultor de miniaturas - “Aos 15 anos já usava com certo à-vontade o canivete sobre os pequenos troncos de madeira que lhe vinham à mão”.
Entretanto, ele e o irmão Carlos, com apoio da família Reynolds, aprendiam música; tiveram como professores os que a família contratava para, em Estremoz, ensinar os seus jovens.
Joaquim e o irmão Carlos frequentaram a oficina para construção de instrumentos de corda criada por Carlos Juan Reynolds Esteban; sabiam assim também consertar e fazer violinos. [ 5 ]
Mais tarde, Carlos foi 1º Violino, e seguiu mesmo por uns anos a vida artística em Lisboa, tocando na orquestra do Teatro Nacional de S.Carlos.
Joaquim foi executante de vários instrumentos de corda, em especial a viola de arco e contrabaixo.
Entretanto, outro destino lhe estava reservado.
2 - A PARTICIPAÇÃO
O deflagrar da 1ª Grande Guerra, a Pátria exigiu-lhe outra participação.
Consta na folha militar que Joaquim assentou praça em 1913, sendo incorporado em Évora em 1914 no Batalhão de Sapadores de Caminhos-de-ferro e foi graduado como 2º Sargento miliciano em 1915.
Com a 1ª Companhia do seu batalhão, alojada em Cascais, embarcou para França em 26/ /Março/1917, fazendo parte do Corpo Expedicionário Português , que foi subordinado ao I Exército Britânico.
Ainda em 1917 frequentou com aproveitamento a Escola de Gás de Mametz, no Somme.
Guardo uma sua foto postal de 1918, escrita para a sua “madrinha de guerra”, da qual infelizmente não se lê o nome.
FOTO – Carta postal, verso. [ 8 ]
Fez parte do destacamento de Maison-Ponthieu e em 27/Fev./1919 foi presente no destacamento de Conteville. , distrito de Abbeville , a Sul do rio Autrie.
Foi repatriado com a 1ª Companhia S.C.F., desembarcou em Lisboa a 1.Maio/ 1919 – o seu registo militar cita que sofre de “moléstia”
Os Militares do Batalhão “SEMPRE FIXE” cumpriram bem a sua missão e Joaquim ,
Teve direito à medalha comemorativa da França 1914-18, por louvor de bons serviços.
Teve direito a usar o distintivo correspondente à condecoração de Comendador da Ordem de Torre e Espada concedida ao seu Batalhão.
3 – O APÓS
Cem anos passaram. Com o meu marido, viajámos pela França, percorremos com prazer a costa da Bretanha e da Normandia (visitámos esse grande símbolo, que é o Memorial de Caen, da 2ª Gr. Guerra), mas só agora, tive ocasião para me debruçar sobre pormenores relativos à 1ª Grande Guerra.
Que sabia eu, sobre as dificuldades sentidas pelas tropas do CEP ou o comportamento altamente louvado do nosso B.S.C.F., de que o Tio fez parte ?
Das minhas memórias de infância ficou sempre marcada a angústia da família. Amélia, a sua mãe, ficou “com o cabelo todo branco quando o Tio Joaquim "foi para a guerra”... Ao regressar, a sua família recebeu e ajudou a recuperar um homem com problemas de “gaseado”, e que ficou com deficiência de visão.
Teve sorte ao encontrar a jovem Hortênsia Salsinha, sua aluna de música, a mulher dedicada que o acompanhou por toda a vida.
FOTO – Joaquim e Hortênsia [ 8 ]
O Tio não deixou mais a sua terra; amigo da família, cidadão exemplar, foi funcionário público mas as suas qualidades como artista não se perderam.
Era executante de vários instrumentos de corda – preferindo violeta e contrabaixo; com os irmãos, formaram um Sexteto de música clássica que actuou anos no Círculo, no Teatro Bernardim Ribeiro, nas solenidades de Igreja.
FOTO – Cartaz do Teatro [ 3 ]
Os irmãos Pereira eram amigos de Tomás Alcaide e acompanhavam o nosso grande cantor de ópera, nas suas vindas à terra natal, com ele participando em serenatas e em espectáculos.
Joaquim, Carlos e as irmãs Gertrudes e Georgina,faziam parte da Orquestra Sinfónica de Évora; lembro-me de ir assistir às cerimónias em que os quatro estavam na Orquestra, em Montemor-o-Novo, quando da visita a Portugal das relíquias de S. João de Brito, em 1950.
A habilidade do Tio Joaquim para talhar madeira em miniaturas não se perdeu – era uma das suas ocupações nas horas livres - a sua viúva e a família, doaram uma coleção ao Museu Municipal de Estremoz estando as peças expostas em sala própria.
FOTO – Escultura em madeira,St.Antº [ 6 ]
Outro hobby que teve foi a fotografia - talvez um dia, uma recolha na cidade ajude à reconstituição da sociedade estremocense época.
4 - Recordação
Quanto mim, filha da sua irmã Matilde …tenho ainda em memória uma imagem que lhe diz respeito.
Na sua casa… Sempre a vi ali, emoldurada, na parede da sala ….A fotografia a preto e branco de uma recém-nascida no seu primeiro vestidinho.
Representa um sonho nunca realizado. No final de um parto difícil, salvou-se a mãe mas o fórceps matou a criança. Joaquim e Hortênsia não tiveram mais filhos.
Anos mais tarde, após a segunda Guerra Mundial, outro sonho surgiu. Receberam em sua casa a Fritz, uma menina austríaca, chegada num grupo de crianças “refugiadas”.
Seria esta a filha desejada … Mas também aqui a realidade foi amarga para o casal – os pais quiseram-na de volta para Viena.
Notícias da Fritz iam chegando; conheci-a, era uma menina loira, muito meiga; embalada pelo carinho que sentia, voltou nas férias, escrevia, mandava fotos, mas casou e teve filhos no seu país …
Também eu, nascida já em 38, fui uma criança mimada por estes Tios … mas também eu, com os meus pais deixámos Estremoz, só voltando de visita. E ainda guardo a cartinha de parabéns que enviaram com uma lembrança, quando nasceu o Pedro, o meu filho mais novo, … ia o Tio nos seus 84 anos…
Faleceu em Estremoz, em 1979.
Ao Tio Joaquim, bem como a todos os Combatentes, aqui deixo expressa a minha
modesta HOMENAGEM
ooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo
Algumas das muitas consultas feitas – citadas no texto :
1. Folha militar – amavelmente cedida pelo Arquivo Militar.
2. Crespo, José Marques – Estremoz e o seu termo Regional – Public.1950
3.Trindade, Gabriela Ruivo – Uma outra Voz . Ed.Leya, 2014.
FOTO dum Cartaz do Teatro Bernardim Ribeiro
4. As unidades militares de Cascais – Malomil - Blogspot
http://malomil.blogspot.pt/2013/02/as-unidades-militares-de-cascais.html
5. Site da Família Reynolds - http://reynolds.com.es
6. Site do Museu Municipal de Estremoz
https://onedrive.live.com/view.aspxcid=F9E19AF2CAF4AA65&resid=F9E19AF2CAF4AA65%21520
. FOTO de Stº António - Fotógrafo Rui Ponte e Sousa .
7. Matos, Hernani – Estremoz, História Postal – Do Tempo da Outra Senhora – Blogspot - http://dotempodaoutrasenhora.blogspot.pt/2012/07/a-greve-dos-correios-de-1920-em-estremoz.html
. FOTO do Prédio do Café Águias de Ouro à época de 1909 – circula na Net
sem registo do autor.
8. FOTOS pessoais do meu álbum de família.
9. Mapas Michelin e outros de França
10. Documentos sobre a 1ªGrande Guerra
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Bibliografia anexa ao texto
Imagens - de pessoas e locais
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- ID
- 17659
- Number of items
- 6
- Person 1
- Joaquim Martins Pereira
Born: August 21, 1893 in Santo André, Estremoz - Portugal
- Person 2
- não incluido madrinha de guerra
- Origin date
- January 13, 1914 – October 4, 1924
- Language
- Português
- Keywords
- Gas Warfare, Transport, Women
- Front
- Western Front
- Location
- Estremoz - Alentejo - Portugal
- Contributor
- Dina Almeida